Admirável Mundo Novo - Huxley, Aldous

Tiago Ferreira Evolução e regresso

(Classificação 4 de 5)

Foi pensando na tecnologia e nos efeitos catastróficos que ela pode proporcionar ao homem que o escritor inglês Aldous Huxley tomou como ponto de partida para publicar a novela Admirável Mundo Novo.

Em seu livro, Huxley profetizou um futuro onde não há barreiras para os valores éticos e sociais. Os líderes e acontecimentos históricos são negados, assim como todos os livros, escritos, pensamentos filosóficos e religiões; o homem passa a viver para o permanente consumo num paraíso artificial onde não existe mais o sentimento e o matrimônio, foi abolida a família, fazer sexo tornou-se comum e o simples pronunciamento da palavra pai ou mãe chega a ser uma obscenidade.

No ano 732 depois de Ford (líder que iniciou essa nova era) a população é formada através de tubos de ensaio e separada por castas – Alfa, Beta, Delta, Gama e Ipsilone. Os Alfas e Betas são os privilegiados da sociedade pela inteligência e beleza que possuem, além de poderem assistir ao ‘Cinema Sensível’ (espécie de sessão onde se sente o que o protagonista do filme irá sofrer ou tocar) e passear de helicóptero pelas cidades, enquanto que os Deltas, Gamas e Ipsilones geralmente são retardados ou um bando de gêmeos ignorantes que trabalham para as castas superiores.

Apesar de todas essas divergências sociais, todos são condicionados a serem felizes, não importando sua casta, através do treinamento malthusiano: técnica manipuladora que obriga crianças a escutarem frases benéficas à estabilidade enquanto dormem, como: “Ford é o máximo”, “Orgia – Bugia”, “O que é velho não se costura” “Comprar é preciso”, etc. São frases fundamentais para que perdure a ordem estável deste mundo.

Exclusos desses moldes existem os Selvagens, tidos pelos alienados como pessoas retrógradas, pueris e infelizes. Não são condicionados e vivem em aldeias afastadas; possuem suas seitas, crenças e rituais e não têm contato com os seres civilizados.

Apesar de totalmente extremista, a preocupação de Aldous Huxley não é retratar as especificidades tecnológicas, mas explicitar como a máquina pode regredir o pensamento humano e como essa metamorfose interfere no cotidiano de todos. Na novela de Huxley, um casal de Alfas visita uma área selvagem e trazem consigo um rapaz e sua mãe à civilização. O selvagem fica estupefato com o modo de vida das castas e passa a questionar os valores humanos, negligenciados pelos dirigentes desse mundo.

Pode parecer utopia a existência dessa sociedade esclerosada, alvo da crítica do escritor, porém não há como não se aterrorizar com a imaginação dos fatos que vão sendo desenvolvidos na novela e como a constante evolução tão almejada por nós, seres humanos, faz com que aumente cada vez mais nosso regresso e conformidade. (Admirável Mundo Novo)