Critica Literaria
 
Noites Brancas   

Noites Brancas


Fiódor Dostoievski

Capa mole. Europa-América 2000.
ISBN 9789721016071







Descrição da editora





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Será que não é permitida ao sonhador uma vida além-sonho? Residirá apenas no gozo de um instante toda a felicidade que lhe é assentida? O percurso do protagonista de Noites Brancas assim parece demonstrá-lo. Um homem que não é homem, um recluso em liberdade, que arrasta uma existência solitária pela São Petersburgo distante. Calcorreia a cidade de lés-a-lés, conhece-lhe cada canto, cada recanto, dialoga com ela, reconhece os seus concidadãos, mas não faz parte dela. Vive corporeamente num mundo que não é capaz de envolver nos braços e que vai povoando com a fertilidade da imaginação. Assim, incapaz de uma adequação à realidade, ricocheteia para mundos imaginários. A fantasia serena, apaziguadora, comandada pelos desejos, pela vontade, pela fiel capitania dos sonhos, substitui a realidade inclemente e vive, por fim, o que sempre pretendera viver, esquecendo a verdadeira vida. Torna-se, pois, o herói que sonhara ser, o aventureiro em que não se conseguia tornar, o homem que não conseguia incorporar. A sua realidade passa a ser a realidade dos sonhos: só aí tem expressão a sua existência malograda e só aí pode, de facto, ser feliz.
É assim que, definitivamente alheado do mundo, habitando um mundo só seu, encontra Nástenka, uma versão feminina do sonhador, embora menos consciente do seu estado, mais inocente. Nástenka pranteia por um amor supostamente perdido, pela felicidade baldada e, também ela uma sonhadora, o seu mundo fantástico era tão-somente aquele em que habitava ternamente com o seu amante ausente. Consciente da impraticabilidade dos seus desejos no plano da realidade física, o sonhador desenvolve por Nástenka uma paixão que reconhece, desde logo, irrealizável. Aferrolha os sentimentos à imaginação pura e aí goza a satisfação amorosa, sem deixar porém de sofrer terrivelmente a não execução do que sente, no mundo real. Desmembrando-se, esta paixão é, além de afecto amoroso, o desejo último de conter em si a experiência humana, coisa que ao restante mundo era concedida. Sem que o esperasse, depois de Nástenka compreender igualmente irrealizáveis os seus desejos, é-lhe concedida a oportunidade de materializar os seus sonhos: Nástenka dispõe-se a aceitá-lo nos seus braços. Os dois mundos paralelos, o da realidade e o dos sonhos, até então intocáveis, estreitam-se e cruzam-se: finalmente, o sonhador pode sonhar acordado. A felicidade transbordante, pela primeira vez transposta para o mundo físico, duraria porém bem pouco. Imediatamente após o cruzamento destes dois mundos, logo eles se afastam. Nástenka encontra o seu amante e tudo retrocede. Ao sonhador fora permitido uns instantes de júbilo, um momento singular de satisfação terrena, um pequeno gozo no mundo, antes de voltar a ser arremessado, como um trapo velho, para o mundo eterno dos sonhos, ao qual, comprovando-se assim dramaticamente, pertencia irremediavelmente.
Fechado em casa, no quarto escuro e sujo, deveria o sonhador permanecer. À sua volta, findas as Noites Brancas, durante as quais passara momentos agradáveis com Nástenka e durante as quais os seus sonhos tinham, de facto, alcançado o púlpito da realidade, tudo era agora novamente estranho. Tal como o seu quarto, o mundo parece-lhe negro, frio, insípido. Tudo à sua volta lhe é, terminada a descida pontual ao mundo humano, novamente hediondo. Regressado à sua condição solitária, perscruta a lividez do mundo, ao qual não pertence, definitivamente. Matriona, a governanta, é o paradigma da humanidade que o rodeia. Não possuiu mais ambições e de nada mais se orgulha que da limpeza das teias de aranha do tecto, regozijando-se atoleimadamente com a realização de tal feito e com a possibilidade de ele se casar no futuro – fim último de toda a mente parca. Matriona representa, pois, a mediocridade do mundo terreno, ao qual ele não consegue unir-se, mas com o qual também parece não ter nada em comum.
Em última análise, tudo o que se passou poderá ser visto como mais uma realização imaginária no mundo fantástico, terminando assim que a aspereza do mundo real o exigiu. Assim, tudo foi mais um sonho, cujo fim seria inevitável com o amanhecer do dia e com o fim das Noites Brancas. Nástenka representa o ideal sonhado, a felicidade possível durante o sonho, durante a passagem das Noites Brancas, durante o desenrolar da fantasia criada para ignorar o mundo real. Por seu lado, Matriona representa a realidade insossa, a estultícia e a vulgaridade da humanidade, e contribui para o desencontro dele com o mundo. Remetido, portanto, a uma existência inexistente, por só aí poder, paradoxalmente, existir, afasta-se do mundo real, o qual, apenas durante alguns instantes, lhe fora permitido tocar.
(Noites Brancas)





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