O Cego de Sevilha - Robert Wilson Capa mole

(Classificação 4 de 5)

Se tivesse que classificar este livro em apenas uma palavra, essa palavra seria visceral.
A primeira cena do livro obriga-nos enquanto leitores a entrar na mente da vítima, a sentir os seus medos, os seus terrores, e sem nos apercebermos algures na narrativa os medos que sentimos já não são os da personagem mas sim os nossos próprios medos, os mais terríveis e inconfessáveis. Robert Wilson é excelente ao conseguir tornar este livro numa experiência única e diferente para cada leitor.
No fundo a temática deste livro passa pela percepção, pela compreensão, pelo reconhecimento, reconhecimento esse que nada tem a ver com a capacidade física de ver, mas sim com a nossa capacidade interior de discernir a aparência da realidade, e de assumir essa realidade ao invés de nega-la.
Wilson compele-nos a sentir quase de tudo o que existe para sentir. Por vezes sentimo-nos incomodados, irritados, eufóricos, e às vezes até com uma vontade irreprimível de tomar uma dose dupla de “Orfidal” tal como o personagem central “Javier Falcon” e esquecer tudo e todos, mas faz-nos sentir também que encarar aquilo que tememos é sempre o melhor caminho.
O Cego de Sevilha é tudo menos um livro de leitura fácil. Cheio de personagens e enredos faz-nos lembrar o labirinto das ruas de Sevilha, mas como em todos os labirintos se conseguirmos encontrar o caminho certo somos recompensados, e neste caso a recompensa é uma visão no mínimo mais aberta e verdadeira em relação à vida. (O Cego de Sevilha)

Zaramago Lição de ver nº2

(Classificação 5 de 5)

Um livro muito complexo de facto que permite ao leitor embrenhar-se por vezes momentaneamente, outras, não raras, durante bastante tempo na sua mente, procurando a verdade inerente a si, como que tentando VER o seu eu perdido, trazido ao de cima, subtilmente pelo autor. Muito intenso. (O Cego de Sevilha)